O lugar certo para comunicarmos !: januari 2007

O lugar certo para comunicarmos !

13 januari, 2007

O caçador de pipas













Uma semana atrás estive visitando a Marjorie, uma amiga brasileira que também mora em Rotterdam.
Entre cafezinhos e muito bate-papo começamos conversar sobre livros. Eu e ela quando vamos ao Brasil compramos livros e mais livros. Em português!
É possível comprar livros em português aqui em Rotterdam mas geralmente são livros publicados em Portugal. Quando os compro sempre aparece nos textos expressões que não sei o quê querem dizer, sem contar que o preço é daqueles!

Em um determinado momento Marjorie diz: "Leve este livro para você ler, ele é fantástico. Me emocionei muito com ele."
Agradeci e guardei-o na bolsa. Ainda me lembrei que estava lendo um livro do Paulo Coelho, A Bruxa de Portobello, que comprei em uma daquelas máquinas que ficam nas estações do metrô de São Paulo quando estive no Brasil em outubro do ano passado.

Depois de mais um cafezinho e mais conversa, fui embora.
Quando estava na estação para pegar o trem em direção a Rotterdam Central vi no quadro de horários que tinha que esperar quinze minutos, decidi folhear o livro somente para passar o tempo.
Na capa li o nome do autor, Khaled Housseini, que não me disse nada.
O título: O caçador de pipa.
Virei e li no seu verso a sinopse, após alguns minutos ouvi o trem chegando. Segurei-o firme nas mãos e subi no trem.

Já sentada pensei em ler apenas as primeiras linhas para ver como a história era contada. Li linha após linha, página após página.
A viagem até a Estação Central de Rotterdam não levou mais de 15 minutos que para mim pareceram apenas 2, quando percebi já estava em Rotterdam.
Andei até o metro onde continuei lendo... lendo.

Durante a semana, á noite, aproveitei cada minuto livre para ler e só parava quando meus olhos já não conseguiam ficar abertos.

Hoje, uma semana depois o terminei e o que posso dizer é que é um livro lindo!
Com muitos momentos terríveis de dor, sofrimento, abusos da guerra ... mas que mostra o que é lealdade e amizade.

Um passagem do livro que me fascinou foi o campeonato de pipas. Após ler as minuciosas descrições e relembrar as palavras que faziam parte do vocabulário de meus irmãos e amiguinhos quando eram crianças como cerol, desbicar, empinar... Fui transferida no tempo.

Na verdade não somente quando eram crianças, eles brincaram de pipa até quando eram "marmanjos barbados" (expressão dos meus pais).

Lembrei-me dos meus irmãos brincando de pipa. Me vi perto deles sentados no chão do quintal afinando as varetas de bambu. Pedindo ajuda para cortar a folha de papel e colar nas bordas da linha da pipa.
Ajudava eles a cortar a rabiola e colocá-la na linha também. Com eles descobri que um bom estirante era o segredo para que a pipa subisse bem e fosse lá de cima mostrar sua beleza e imponência.
Fico muito feliz em relembrar momentos da minha infância como este !

Eliane



"O romance conta a história da amizade de Amir e Hassan, dois meninos quase da mesma idade, que vivem vidas muito diferentes no Afeganistão da década de 1970. Amir é rico e bem-nascido, um pouco covarde, e sempre em busca da aprovação de seu próprio pai. Hassan, que não sabe ler nem escrever, é conhecido por coragem e bondade. Os dois, no entanto, são loucos por histórias antigas de grandes guerreiros, filmes de caubói americanos e pipas. E é justamente durante um campeonato de pipas, no inverno de 1975, que Hassan dá a Amir a chance de ser um grande homem, mas ele não enxerga sua redenção. Após desperdiçar a última chance, Amir vai para os Estados Unidos, fugindo da invasão soviética ao Afeganistão, mas vinte anos depois Hassan e a pipa azul o fazem voltar à sua terra natal para acertar contas com o passado.
"Esta é uma daquelas histórias inesquecíveis, que permanecem na nossa memória por anos a fio. Por muito tempo, tudo o que eu li me pareceu sem graça. Todos os grandes temas da literatura e da vida são o material com que é tecido esse romance extraordinário: amor, honra, culpa, medo, redenção." - Isabel Allende."


03 januari, 2007

Feliz Ano Novo!

Desejo á você um 2007 cheio de paz,
amor, saúde e prosperidade!!!
Desejo também que sua visita aqui neste meu cantinho
se torne uma freqüência.
Que eu receba notícias suas sempre que possível mesmo porque aqui é :
"O lugar certo para nos comunicarmos".

Beijos e Abraços
Eliane


A CRÔNICA DO ANO NOVO
(Joana Belarmino)

Agora que o Ano Novo chegou e vive sua imparável travessura de reiventar e desmanchar os dias, fico a pensar no ano que se foi, pensando em toda a penca de anos que se foram, os anos do calendário cristão, os anos de calendários outros, anos outros que se passaram sem sequer saber que eram anos, no tempo em que a natureza experimentava seu modo de criar o mundo sem que houvesse marcas de tempo, num tempo em que a imensa cozinha cósmica triturava seus átomos, cavalgadura incomum em que a ausência de ritmo era o próprio ritmo do som da invenção.
Fico pensando no quão inadequada é a expressão "ano velho", porque os anos nada mais são do que um exuberante cacho de dias, enfileirados, pendentes à tarde, caindo à noite de maduros.

Quando o útimo dia do ano cai, como se fosse um fruto madurinho do alto de um galho, festejado pelos olhos gulosos de um monte de meninos, nem sequer sobra tempo para que se forme a crosta de resina na árvore do tempo, nem se travestem de folhas emurchecidas, as fatias de minutos do novo ano que surge, feito de novo em fruto estufando de vida, à espera de atos que os diferenciem, que os identifiquem num calendário comum, revestido dos anseios e desejos dos homens.

Os anos são assim, os atos dos átomos, incidentais ou planejados, visíveis ou invisíveis, a tecer o chão e a cúpula do tempo e do espaço por onde trafegam as coisas; os anos são assim, os atos dos homens, a tecer o chão e a cúpula do espaço e do tempo por onde trafegam seus sonhos.

O que envelhece, pois, não são os anos, safra acontecente de tempo presente, a derrubar sobre o teto do mundo os frutos que os dias são.

Envelhecem os relógios e suas engrenagens; envelhece a mão que acerta com dificuldade o ponteiro dos segundos, mão que deixou de ser concha e se parece agora uma folha delgada a pender para o chão; sobretudo envelhecem os atos dos homens, enclausurados em suas leis, seus regimentos, seus dogmas, como se fossem folhas ressequidas e amarrotadas, velhas roldanas ferrujentas a tocar o seu mundo; com o riso envelhecido no canto da boca, envelhece também a vontade do homem de viver os seus sonhos, que se vão quedando feito cordeiros domesticados no íntimo porão das lembranças.

Caleidoscópicos, os anos nunca serão velhos, na sua eterna criancice de estufar dias como se fossem bolhas de sabão, frutos de tempo, bolas coloridas de soprar; velhos serão os homens, enquanto não aprenderem a pedurar seus sonhos, ao modo de guirlandas, no redemoinho feliz desse eterno presente que eles próprios chamam de anos.